Vivemos numa sociedade que está “on line”, permanentemente ligada ao que se passa agora, instantânea, e por isso onde não há preocupação com o futuro.
Por isso já não tem, aparentemente, sentido falar do céu e do inferno. As pessoas já não acreditam nisso porque deixaram de acreditar no futuro. Que se apresenta frequentemente com cores tão carregadas que é melhor fechar os olhos para não o ver: como uma criança que durante o sono fecha os olhos para escapar dos pesadelos.
Mas aquilo que nos espera é um pesadelo, ou é um daqueles sonhos que nos fazem ganhar o dia? Que nos fazem acreditar que a vida é mais do que a mesquinhez com que nos deparamos diariamente no nosso mundo.
É desse assunto que nos falam as leituras deste domingo:
Quem tem fé também acredita que a vida é mais do que aquilo que vemos, e dessa forma vive como uma árvore plantada à beira de um ribeiro. Vemos que cresce forte e saudável porque as suas raízes alimentam-se do ribeiro. Não as vemos mas sabemos que elas estão lá. Mas também no deserto florescem belas plantas; estas não desistem, mas têm umas raízes enormes que lhe permitem recolher a menor partícula de humidade para crescerem. Assim também na vida dos homens, quanto maiores são as dificuldades maior é a coragem para as vencer.
Esta coragem de viver tem a sua razão no valor que a Vida tem, não apenas a vida humana, como a conhecemos, mas também a vida sobrenatural que permanece para além do tempo porque se “é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens”. Porque ele morreu absolutamente derrotado.
A certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um projecto de salvação e de vida para cada homem; e que esse projecto está a realizar-se continuamente em nós, até à sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus: só em Deus encontramos o rochedo seguro que não falha e que não nos decepciona.
É disso que muitas vezes somos acusados, nós os cristãos: de não vivermos o momento presente, de viver numa dor estúpida à espera de uma riqueza futura, como que uma vingança pelo prazer que os outros tiveram e que nós não conseguimos ter.
Ainda por cima Jesus diz no Evangelho: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus”. O anúncio libertador que Jesus traz é, portanto, uma Boa Nova que enche de alegria os corações amargurados, os marginalizados, os oprimidos. Com o “Reino” que Jesus propõe aos homens, anuncia-se um mundo novo, um mundo de irmãos, de onde a prepotência, o egoísmo, a exploração e a miséria serão definitivamente banidos e onde os pobres e marginalizados terão lugar como filhos iguais e amados de Deus.
Porque a vida não é um momento, nem uma colecção de momentos, é uma unidade em permanente construção, um ribeiro cuja água sempre a correr é a mesma mas é sempre nova, diferente. Se a água não correr deixa de ser ribeiro, passa a ser um charco, um pântano.