Apresentação do Senhor

A Apresentação no Templo, Alvaro Pires d'Évora, 1430. (Metropolitan Museum of Art)

Malaquias “apresenta” o Senhor que vem para purificar o seu Povo e inaugurar um tempo novo, o tempo da nova Aliança. Esta “vinda” mostra que Deus não se conforma com a apatia, o imobilismo, o comodismo, a instalação, o derrotismo que nos impedem de avançar em direção à vida plena; mostra como Deus nunca desiste de nos desafiar à conversão, à renovação, à construção de uma vida mais feliz e realizada.

Lucas diz-nos que chegou o tempo da concretização dessa profecia. Mas, contra todas expectativas, Deus apresenta-se na figura de um bebé nascido há poucos dias, débil e indefeso, apresentado nos braços da sua mãe.

Aquela família pobre da Galileia que vem a Jerusalém para cumprir a Lei do Senhor, no que dizia respeito ao resgate dos primogénitos que pertenciam ao Senhor, encontra no Templo um homem chamado Simeão que é, nesta perspectiva de Lucas, a figura do Israel que esperava ansiosamente o cumprimento das promessas de Deus.

Simeão viu naquele menino a concretização das promessas de Deus. Tomou o menino nos braços – como se estivesse a apresentá-lo a Israel e ao mundo – e declara solenemente que a fase da espera terminou e que o Messias de Deus chegou. Esse Messias vem como “salvação de Deus”, isto é, traz consigo os bens que Deus quer oferecer aos seus filhos para que eles tenham vida em abundância. A salvação que o Messias traz brilhará como “luz”, não apenas para Israel, mas para todos os povos.

Simeão está absolutamente seguro de que essa luz chegou finalmente, na figura daquele menino. Lucas refere, ainda, um tema que lhe é muito caro: o da universalidade da salvação de Deus. Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, das suas representações religiosas.

Simeão e Ana, cada um à sua maneira, reconhecem no menino que se apresenta no Templo, o cumprimento das promessas de Deus. Vêm nesse menino uma luz que se acende na noite do mundo e que ilumina o caminho e a vida dos homens. Acolhem esse menino como “a salvação” prometida por Deus e longamente esperada pelo Israel fiel. Acreditam que essa salvação ultrapassará as fronteiras estreitas de Israel e será oferecida a todos os homens e mulheres, de todas as raças.

Como estes dois anciãos vivamos de olhos postos no presente, preocupados em ver como no “hoje” da história dos homens Deus concretiza as suas promessas de salvação; e aprendamos a proclamar esta boa notícia com alegria e entusiasmo. Vivamos de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a nossa sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os que estão próximo de nós a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é passageiro e acessório.

Esperança

Caminho

Cantámos no salmo responsorial da missa de hoje “Não esqueçais as obras do Senhor” e o Evangelho narrava-nos o episódio do paralítico descido através do telhado para ser curado por Jesus.

Na homilia falei da importância da esperança na nossa vida. Num tempo em que tanta gente olha para o amanhã com desânimo não podemos esquecer-nos que Deus é o nosso Salvador. Como cristãos não podemos esquecer-nos da história de Deus entre nós. Ele fez-se homem e viveu connosco, ensinou-nos a amar e a fazer o bem a todos, a perdoar e ser misericordioso.

O Paralítico foi levado por quatro amigos que tiveram de subir para o telhado para chegar a Jesus porque a multidão era imensa. Não era apenas o doente a ter fé e esperança que Jesus o podia curar. Também os amigos tinham fé e por isso não ficaram parados. Sozinhos facilmente desesperamos, a alienação das pessoas tantas vezes nasce do isolamento e da solidão, que são explorados por bastante gente para instrumentalizar tantas pessoas. Só uma comunidade efectiva e real pode transformar as pessoas em agentes efectivos da transformação do mundo para melhor. O projecto de Deus para a Humanidade é um projecto comunitário, a começar na família e que se estende até à consciência da fraternidade universal.

Como cristãos vivamos como peregrinos na esperança.