Com a festa do Baptismo de Jesus, terminamos o tempo do Natal, em que celebrámos a chegada do Verbo de Deus à nossa história. Com o Baptismo Jesus, Deus inaugura o Seu Reino. O seu baptismo era necessário. Não para Ele, que já era Deus, já era o verbo de Deus encarnado. É necessário para nós, para entrarmos neste Reino de aliança com Deus.
O que acontece no momento do batismo de Jesus marca o início do seu ministério messiânico: rasgam-se os céus, significando que a divisão entre Deus e os homens é removida; o Espírito Santo desce sobre Jesus manifestando a SS. Trindade na sua união; ouve-se a voz do Pai que declara o seu amor ao Filho.
«Tu és o meu filho muito amado». Retomamos a primeiro leitura em que Deus diz: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo.» Os estudiosos da Bíblia dizem-nos que o servo de que Isaías fala é apenas o futuro Messias, é todo o Israel, todo o povo da Aliança, e com o Baptismo de Jesus nós tornámo-nos povo da Aliança, de uma aliança renovada porque se alarga a todo o universo, como diz S. Pedro na segunda leitura ao explicar a Cornélio e à sua família que Deus acolhe todas as pessoas sem excepção na sua família, porque nos incorporamos em Cristo pelo baptismo.
O Baptismo de Jesus marca um ponto fulcral da história da salvação. S. Marcos usa a mesma palavra neste momento e no momento da morte de Jesus na cruz. Aqui foram os céus que se rasgaram, depois é o véu do Templo que se rasga, dois momentos que marcam o fim da separação entre Deus e os seus filhos, dois momentos que fazem parte do mesmo acontecimento: Deus salva-nos, por amor Deus cai até nós. É por isso que o baptismo dos fiéis sempre foi visto como participação na morte e ressurreição de Cristo.
Rasgam-se os céus mas a cana estalada não é partida. Porque nesse rasgar é derramada no mundo a esperança da reparação. Rasga-se a fronteira para que a comunhão seja verdadeira. Nas palavras de Isaías mostra-se que Deus é absolutamente fiel à sua aliança, e que por maiores que sejam as nossas quedas Ele estende-nos sempre a mão para nos levantar e nos abraçar. E assim aprendemos a dar a mão aos homens e mulheres que encontramos para que possam recuperar a vida perdida.
Pelo baptismos que recebemos tornamo-nos portadores desta esperança e construtores do Reino de Deus, colaborando com Jesus na nova aliança entre Deus e os homens, numa família nascida da água viva. Torna-se nossa a tarefa que Deus descreve pelo profeta Isaías no texto que Jesus mais tarde vai ler na sinagoga de Nazaré.
Hoje as nossas seguranças foram quebradas e a nossa esperança quase se apagou. Mas os céus continuam abertos e Deus diz-nos que temos uma tarefa à qual não podemos fugir: levar a luz aos que vivem na escuridão, reparar a casa que acolhe os filhos de Deus, que acolhe com amor e compaixão cada homem e mulher.
O nosso baptismo fez de nós pessoas diferentes ao acrescentar uma nova dimensão à nossa vida: não somos prisioneiros do espaço e do tempo, somos filhos de Deus e tudo o que fazemos de bom repercute-se por toda a eternidade. Foi por isso que os Pastorinhos, aqui em Fátima consagraram toda a sua vida à oração pela paz e oferecendo os seus sacrifícios pela conversão dos pecadores. Porque a mensagem de Fátima é uma manifestação da intemporalidade dos actos generosos de amor que tantos cristãos pelo mundo continuam a fazer e o seu contributo para a reparação da casa comum, sejam as famílias, as comunidades, a Igreja e o mundo.
Com o seu exemplo, e fortalecidos pela graça do nosso baptismo vamos dedicar este ano a cuidar dos nossos irmãos e irmãs mais frágeis, a dar a mão a todas as pessoas caídas para que possam levantar-se e erguer a cabeça, olhar em frente e ver o mundo para além das suas desgraças, descobrindo as maravilhas de Deus, o milagre de um sorriso e de um gesto de ternura. Que os céus se abram cada dia e a lâmpada quase apagada vole a brilhar para todos.