Na terça feira os jornais apregoavam “’R’ volta a subir e ameaça regresso à normalidade.” dizendo que esse valor estava acima de um e por isso a Pandemia continuava a crescer. A fonte desta informação vinha directamente do relatório do governo publicado no site do parlamento no dia 27 de abril.
Na Na conferência de impressa desse dia a Ministra dizer que no fim de semana anterior o valo tinha subido para 1,04.
Alguns amigos meus ficaram escandalizados quando lhes disse não acreditar neste número, porque diziam que todos os jornais estavam a dar este número como verdadeiro, sem perceber que todos os jornais estavam a repetir a mesma fonte sem sequer verem que esse valor de 1,04 era referido ao dia 17 de abril, 15 dias antes do citado fim de semana.
Por outro lado há outra fonte, o site da Associação Nacional médicos de Saúde Pública (ANMSP), que apresenta resultados diferentes do valor R.
Como podem ver o valor R em 17 de Abril era de 0.69 e no dia 26 do mesmo mês era de 0.95.
Interroguei-me porque é que o mesmo cálculo pode dar resultados tão díspares, para além da incapacidade dos jornalistas de dar a informação incorrecta e mais ainda descontextualizada.
Afinal se o Rt é matemática e a matemática não erra como é que em dois sítios aparece valores diferentes para a mesma realidade na mesma data?
Reparei que o quadro do Relatório do Governo começa a 21 de Fevereiro e o quadro da ANMSP começa a 7 de março. Porquê?
O Site da ANMSP explica claramente como calculam o valor de R:
O número reprodutivo no período temporal t (‘Rt’) estima o número médio de casos secundários infectados por um caso durante o seu período infeccioso, para o período de tempo t. Sendo assim, este número mede a dinâmica de transmissão de uma infecção num período temporal específico, podendo ser usado como um indicador “instantâneo” da transmissão (velocímetro).Tal como um velocímetro, Rt permite indicar quão rápido decorre a transmissão (se Rt estiver acima de 1, a transmissão está a decorrer a um ritmo elevado e a epidemia está a alargar-se), bem como se esta se encontra em aceleração ou desaceleração, ao longo de um determinado período de tempo (ou seja, se Rt se está a afastar ou aproximar de 1, respectivamente).
O período temporal de cálculo utilizado abrange uma janela temporal de 7 dias. Exemplificando, o valor de Rt reportado em 17-03-2020 diz respeito ao período temporal de 7 dias que termina nesse dia (11 a 17 de Março). Este elemento deve ser acautelado na interpretação do valor de Rt como sendo reflexo de uma janela de transmissão que decorreu, para este cálculo concreto, nos últimos 7 dias.
Foi utilizado o método de cálculo de Rt de Cori A., et. al.. O cálculo deste número requer a definição de uma estimativa do intervalo de série (serial interval) – número de dias entre o início de sintomas de um caso e o início de sintomas de um caso secundário do primeiro – para a infecção em estudo. Para o efeito, foram utilizados os valores reportados por Abbott S., et. al. – média de 4,7 dias (Intervalo de Credibilidade 95% [CrI 95% CrI]: 3,7 – 6,0) e desvio padrão de 2,9 dias (CrI 95% : 1,9 – 4,9)).
Os cálculos foram efectuados com o software R, versão 3.6.1, e pacote EpiEstim versão 2.2-1.
Não foi considerado o efeito dos casos importados.
Não foi considerado, nesta fase de análise, o atraso de reporte dos novos casos.
Os dados do novos casos por dia foram calculados com base no boletim diário da Direcção-Geral da Saúde.
O Relatório do governo não explica como fizeram o calculo, e como não tem bibliografia não se sabe onde encontrar a fonte desse calculo, só diz o(s) autor(es): Nunes et al, 2020, ou seja Baltazar Numes, coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica do (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
Este artigo do Observador não explica como é que os investigadores do Ricardo Jorge chegaram ao número de 1.04 em 17 de abril, mas o calculo do R0, que é o valor de propagação do vírus naturalmente (ou seja sem medidas restritivas como o confinamento, desinfeção das mãos e uso de máscaras) é que é complicado.
E ainda temos o caso dos que são portadores do vírus e não são conhecidos, ou porque estão sem sintomas de doença provocada pelo vírus ou porque não foram testados para a presença do vírus na sua pessoa.