Quando recentemente os burocratas da Comissão Europeia decidiram abolir os produtos de plástico descartáveis como copos, talheres, palhinhas e sacos lembrei-me que bem pouco tempo antes a mesma comissão obrigou a embalar os pães individualmente em plástico.
Para além da esquizofrenia destes agentes que constantemente promulgam leis contraditórias navegando ao sabor das modas e grupos de pressão, há ainda uma coisa a ter em conta: as consequências não intencionais de propostas apressadas e que olham para o problema apenas de um único ponto de vista.
Lembrei-me de uma cena da excelente série «The Good Place» transmitida pela Netflix.
Como no meu blog não consigo embeber o clip fica aqui o link:
http://www.criticalcommons.org/Members/JJWooten/clips/the-good-place-externalities-unintended
No 10 episódio da terceira série, Michael interroga-se porque é que as pessoas estão todas a ir para o Inferno, «The Bad Place», em vez de ir para o céu, «The Good Place», quando a Tahani diz que quando tenta fazer alguma coisa boa o resultado é sempre desastroso, com más consequências impossíveis de prever.
Michael usa então o exemplo claro para mostrar este problema:
Em 1534, Douglas Wynegarr, de Hawkhurst, em Inglaterra, ofereceu rosas à avó pelo seu aniversário. Ele próprio as apanhou, levou-as à avó e ele ficou feliz. Cento e quarenta e cinco pontos. Em 2009, Doug Ewing, de Scaggsville, em Maryland (EUA), também ofereceu uma ramo de rosas à avó, mas perdeu quatro pontos. Porquê? Encomendou as rosas por telemóvel, em cuja fábrica há exploração laboral. As flores foram cultivadas com pesticidas tóxicos, colhidas por trabalhadores migrantes explorados, entregues a milhares de quilómetros, criando uma enorme pagada de carbono o dinheiro foi para um patrão racista bilionálio que envia fotos dos genitais às suas empregadas. Todos os dias o mundo fica mais complicado e cada dia é um bocado mais difícil ser boa pessoa.
Não é apenas a lei de Murphy (se alguma coisa pode correr mal, mais cedo ou mais tarde vai correr mal) a funcionar, é uma consequência da segunda lei da termodinâmica que nos mostra que num sistema fechado a energia tende a dividir-se por igual, o que implica uma passagem de uma situação complexa para uma situação mais simples. Um exemplo claro é a passagem da água do estado sólido para o estado líquido. Em termos leigos: se algo está em movimento mais cedo ou mais tarde vai parar se não existir uma força exterior que aumente a energia (porque a energia acaba por se nivelar), o grau de decadência aumenta estatisticamente com o grau de complexidade.
Como o mundo é cada vez mais complexo as decisões têm de ser tomadas a partir de uma quantidade maior de dados e para isso é preciso tempo e perspectiva, é preciso memória e cultura, é preciso alargar os horizontes e aceitar a discussão e dissensão. Como diz o papa Francisco: é preciso discernir.