3º Domingo da Quaresma

Carapaças

O tempo da quaresma é uma época propícia para pensarmos sobre a vida que levamos. Vivemos rodeados por tanta coisa que nos esquecemos do que é verdadeiramente importante. No entanto temos consciência de que a vida é precária, que qualquer coisa nos pode deitar abaixo, nos pode magoar e mesmo destruir.

Por isso nos rodeamos de muita coisa para nos mantermos seguros e vivos. Vamos criando à nossa volta uma couraça que impede que sejamos atingidos, como as tartarugas. Mas essa carapaça vai-se tornando cada vez mais pesada que tal maneira que deixa de cumprir a sua função. Impede-nos de sermos verdadeiros e de caminhar pela estrada da vida. Ficamos como estátuas, no mesmo lugar, sem nos mexer, porque estamos bem no nosso cantinho que já conhecemos muito sobremaneira.

São estas seguranças artificiais que Deus nos convida a destruir neste domingo. Não precisamos disso, como nos diz S. Paulo: “Quem julga estar de pé tenha cuidado, para não cair.” O pecado do homem é deixar-se guiar pela vaidade e pelo orgulho. Mas isso é passageiro, facilmente é destruído: como o ferro atacado pela ferrugem ou a roupa pela traça.

O próprio Jesus Cristo hoje é particularmente duro: “Julgais que eram mais culpados que os outros? Se não vos arrependerdes morrereis todos da mesma maneira.” Esta dureza não é cega, sem sentido, trágica. Ela traz no seu coração a semente da felicidade. O arrependimento dos pecados, do nosso mal leva-nos a quebrar a nossa própria couraça, e a ficarmos livres para voar, como uma borboleta que na primavera sai da sua feia e rija crisálida para voar com as belas asas estendidas ao sol.

O que é que nos dá esta esperança? É a própria figura de Deus, aquele que é. Revelado a Moisés como o SER eternamente PRESENTE: “O Deus de vossos pais enviou-me a vós.” Um Deus que acompanha o seu povo, sofre com ele, alegra-se com ele. E quer que ele se liberte de todas as escravidões: não apenas trabalhar para os egípcios, mas sobretudo rejeitando o Deus da Alianç a para adorar os deuses da terra onde eram escravos.

Israel descobriu – e procurou dizer-nos isso também a nós – que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que sempre que alguém luta para ser livre e feliz, Deus está com essa pessoa e age nela. Na libertação do Egipto, os israelitas – e, através deles, toda a humanidade – descobriram a realidade do Deus salvador e libertador.

Desde o início da sua pregação, Jesus apela à conversão, o que faz igualmente João Baptista. É mesmo para Jesus uma questão de vida ou de morte. A conversão não é mortífera, ela é fonte de vida, pois faz o homem voltar-se para Deus, que quer que ele viva. O homem é como a figueira plantada no meio de uma vinha: pode ser que, durante anos, não dê frutos… mas Deus, como o vinhateiro, tem paciência e continua a esperar nele. Deus vai mesmo mais longe, dá ao homem os meios para se converter. Jesus não apela somente à conversão, mas propõe ao homem o caminho a empreender para amar Deus e amar os seus irmãos. A paciência de Deus não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Paciência e confiança estão ligadas: Deus crê no homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para Aquele de quem se afastou.

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