Água da vida
Neste dia em que celebramos o baptismo do Senhor celebramos ao mesmo tempo a revelação de Deus como pai misericordioso, quando se ouve a sua voz depois do baptismo de Jesus: “Tu és o meu filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência.” E estas palavras continuam a ter o mesmo significado para todos aqueles que se baptizam ainda hoje. Deus continua a revelar o seu amor aos homens de hoje, mesmo que eles pareçam cada vez mais afastados do Seu amor.
Este é o desafio que somos convidados a viver neste tempo: viver a fraternidade que nos foi transmitida por Jesus. Reparemos nas palavras de S. Pedro na casa de Cornélio, o primeiro pagão a receber o baptismo: “Deus não faz acepção de pessoas.” Com esta atitude a Igreja nascente tornou-se verdadeiramente universal, aberta a todas as pessoas, independentemente da sua raça e do seu nascimento.
Talvez seja tempo de fazermos um exame de consciência sobre a forma como estamos a dar testemunho da nossa fé, como estamos a anunciar o baptismo de salvação aos homens do mundo de hoje. Dizemos todos os dias que Deus veio salvar todos os homens, que ele quer que todos façam parte da sua família. Mas quais são as consequências para a nossa vida concreta?
Deus na sua bondade continua a chamar a todos para pertencerem a esta família divina, como ouvimos na primeira leitura: “Fui eu o Senhor que te chamei.” E para quê? Para que é que Deus se dá ao “trabalho” de nos chamar? De querer que sejamos nós a ter nas mãos o destino do mundo?
Porque somos da sua família, somo seus filhos, e Ele não é egoísta para guardar só para si a tarefa de tornar, recriar, as coisas boas, incluindo-nos a nós mesmos.
“Não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que fumega.” Diz o profeta Isaías. Esta frase deve-nos levar a pensar que não podemos fechar a torneira desta fonte do baptismo aos que têm sede, mesmo que parte da água escorra para a terra, alguma se aproveita. Se muitas pessoas não estão preparadas para receber o baptismo, ou para baptizar os seus filhos temos de encontrar uma maneira de os tornar conscientes disso, de os levar a descobrir este enlevo que Deus tem para cada um de nós. Não basta dizer não, temos de revelar o sentido do baptismo às pessoas. Mas isso só acontecerá quando tivermos plena consciência das nossas próprias limitações e que o verdadeiro trabalho da conversão dos corações é realizado pela graça de Deus.
Jesus foi baptizado já como adulto e consciente da sua tarefa no mundo: anunciar o Reino de Deus aos homens. Nós fomos baptizados em criança, sem termos consciência da nossa responsabilidade. Mas à medida que vamos crescendo também vamos tomando consciência do que somos e daquilo a que somos chamados. Assim como Jesus foi tomando consciência da sua missão ao longo do tempo.
Vamos então, nós que já fomos baptizados, tomar consciência da nossa missão no mundo, que é no fundo a mesma de Jesus: levar a todos os homens o reino de Deus, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do espírito Santo.