Paz? Amor?
Toda a gente diz que o Natal é uma época de paz e de amor. Mas será que é mesmo assim? Como é que as pessoas vivem os dias que antecedem esta festa: a correr para comprar os presentes para todos os membros da família, e não só; a correr para adquirir as últimas novidades; a correr para participar nas festas da empresa, da escola, de caridade, dos diversos familiares. Além disso somos assaltados por centenas de luzes e apelos à festa, envolvidos numa nuvem de vermelho, verde e branco.
Por vezes apetece-me nesta altura partir para uma ilha deserta, com um pequeno grupo de amigos que possa estar em paz, liberto das solicitações da nossa cultura moderna.
Este ano o dia de natal é logo a seguir ao 4º Domingo do advento, assim antes do grande dia a Palavra de Deus fala-nos de humildade, de simplicidade: ouvimos o profeta Miqueias dar a pista que permitirá aos Reis Magos descobrir onde podem encontrar o Menino que nasceu para os homens. Belém, a cidade da tribo mais pequena de Israel foi escolhida por isso mesmo: porque só na simplicidade se pode acolher o Deus Menino, ele que será a Paz. Por isso não poderia nascer das tribos mais poderosas, que sentem logo a atracção pelo governo das coisas da terra. Mas Deus prefere o coração dos homens, e as relações de amor que se vão construindo entre eles.
Essa relação de amor existente é o que leva Nossa Senhora a abandonar a sua casa para ir ajudar a sua prima Isabel, que estava grávida de João, que mais tarde seria conhecido como o Baptista. A mãe de Deus viajou incógnita, sem séquito, sem louvores, apesar de já trazer dentro de si o Filho de Deus, que preferiu chamar-se a si próprio “Filho do Homem”, fazendo-se tudo com todos.
Em toda esta história vemos que os homens quando se deixam guiar por Deus, quando reconhecem que a sua existência só tem verdadeiro sentido quando se faz a vontade do Criador, acabam por se elevar da própria e mera humanidade.
Então em vez de andarmos a correr para apresentar o Natal mais bonito àqueles que nos rodeiam, vamos procurar acolher este menino que nasce para todos os homens. Que possamos dizer como Isabel: “Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu salvador?”
Na verdade nós não merecemos o Bem que recebemos, porque somos muito pequeninos e porque tantas vezes não queremos aceitar despojarmo-nos daquilo que é acessório: como os pinheiros de Natal, muito bonitos, muito ricos, mas que são postos no lixo depois do dia de Reis.
Lembremo-nos que não basta cumprir as normas se nos esquecemos aquilo que está verdadeiramente na origem das coisas: o Natal não são as festas, as prendas, os presépio e pinheiros. O Natal é imitarmos Jesus Cristo que nasceu humilde e pequenino para fazer o bem.
É isso que anuncia João no início do seu evangelho lido no dia de Natal: um Deus que se faz carne e habitou entre nós, suprema originalidade de Deus. A incarnação de Jesus significa a oferta que Deus faz à humanidade da vida em plenitude. Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida nova, a vida plena, a fim de que ele possa realizar em si mesmo o projecto de Deus – a semelhança com o Pai, o Amor tornado existência pessoal.
O verdadeiro Natal deve de acontecer no coração de cada um de nós!