Neste dia de Cristo Rei o que é que celebramos? O poder? Uma forma de ser?
Desde sempre as relações entre o poder e a religião foram muito íntimas. Ainda hoje podemos dizer que alguns dos maiores problemas da Igreja estão ligados a formas de poder.
Mesmo a divisão hierárquica da Igreja, ao estar centrada em relações de poder é imperfeita. A Igreja possui antes uma estrutura trinitária: Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo. Neste sentido o que importa é o serviço, que se revela nos ministérios e nos carismas existentes dentro de si.
É por isso que, na igreja, todos são importantes. E é por isso que à Igreja não se pode aplicar nenhuma das formas de regime político conhecido: democracia, ditadura, república, monarquia, etc. É essa diferença que celebramos hoje.
Deus pela boca do profeta Ezequiel, que escreveu durante o exílio da Babilónia, consola o povo dizendo: “Hei-de exercer a justiça entre as ovelhas, carneiros e cabritos”, significando assim que não faz excepções entre as diversas pessoas; todas têm o mesmo valor, porque cada uma é imagem de Deus, cada uma é criada individualmente por um desígnio de amor. Esta igualdade de condição também se manifesta na igualdade da forma de viver aquilo em que acredita: plena e empenhadamente, como um serviço.
Cristo é o primeiro a dar-se totalmente aos irmãos. Fez-se tudo para todos e a sua entrega foi total. O seu amor derrotou o mal, assim como a luz acaba com a escuridão. Ele foi o primeiro a vencer a morte, é por isso que S. Paulo escreve aos coríntios dizendo que Jesus “surgiu de entre os que morreram como os primeiros frutos da seara.”
Assim Ele é exemplo para todos nós, e é por Ele que seremos um dia restituídos à Vida, e assim Deus será tudo em todos, o Reino de Deus atinge a sua plenitude e completa-se a Criação.
Então de uma forma prática não podemos ficar sentados à espera que isto acabe para aparecer uma nova vida. Temos algo para fazer, à semelhança de Jesus: o nosso poder reside no Amor. Quando Jesus nos diz: “Na medida em que o fizerdes a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes” está a dizer também que todos somos seus irmãos e que não nos podemos descartar da nossa tarefa, mesmo sendo a mais humilde, ou a mais honrosa, porque o que conta é o amor com que fazemos essa tarefa.
Somos directamente responsáveis pela vida dos nossos irmãos. A nossa felicidade, e a felicidade do próprio mundo, reside na capacidade da entreajuda. Cada vez que vemos alguém que sofre temos o dever grave de ajudar esse nosso irmão. Se calhar é uma utopia tornar o mundo absolutamente justo, torná-lo um lugar onde reine a paz, o equilíbrio entre todos os homens, e com mundo onde vivem.
O nosso poder está no amor que é capaz de mover montanhas, de tornar como manteiga os corações de pedra. Um amor capaz de mudar aquilo que Deus não muda (nós mesmos) porque respeita absolutamente a liberdade que nos deu.
“Tive fome, e me destes de comer”