Hoje republico no meu blogue uma crónica que escrevi para o MacNotícias em Maio do ano passado:
Como é que um ferrenho utilizador de mac, inclusive considerado fanático por alguns, faz, para um site dedicado ao mundo mac, uma primeira crónica com este título?
Será que tráz água no bico? Bico do lápis?
Ainda por cima o autor é alguém que se começou a interessar por estas coisas da informática pois facilitava a escrita: deixava de ser necessário fazer vários rascunhos, a edição era mais rápida, podia-se acrescentar texto em qualquer altura, em suma: a tarefa de escrever tornava-se mais fácil.
Com a entrada no curso Filosófico-Teológico e a necessidade de fazer trabalhos escritos para as diversas cadeiras do curso, o computador tornou-se uma ferramenta cada vez mais importante na minha vida, e assim fui progredindo no curso, ao mesmo tempo que os computadores também se iam desenvolvendo, cada vez com mais capacidades, mas sempre com a função primária de editar texto.
Muitas páginas foram escritas no Classic II e depois no LC 475 com o Word 5.1, um processador de texto potente e fiável (afinal é possível elogiar alguma coisa proveniente da Micro$oft). O processo era sempre o mesmo: liam-se as obras de referência e depois mãos à obra consultando, sempre que tal era necessário, os livros que serviam de base ao trabalho, fosse ele de dogmática, exegese ou pastoral.
Os trabalhos eram feitos para apresentar por escrito aos professores, por isso o texto podia ter uma linguagem e estrutura densa e complexa. Nessa altura a Internet era uma coisa ainda distante, por isso não existia o famoso copy–paste. Mesmo que quiséssemos copiar alguma coisa, tinha de ser tudo dactilografado, o que implicava várias horas a escrever, normalmente uma página por hora. Mas pelo menos era mais fácil gerir as notas de rodapé, ir acrescentando parágrafos e citações à medida que o trabalho ia evoluindo, ir acrescentando cada vez mais coisas para chegar ao número de páginas pedidas pelos professores.
Esses tempos já lá vão. Agora os trabalhos são diferentes. A vida de pastor de uma comunidade católica exige novos modelos de trabalho, já não de reflexão intelectual pura mas mais de acção e de pregação. E apesar de actualmente ter um G5 e um iBook o lápis torna-se uma ferramenta muitíssimo importante.
Como pároco a oralidade torna-se fundamental, a clareza e simplicidade de expressão são fundamentais, porque numa homilia ou palestra, não podemos voltar atrás para ler de novo uma frase mais densa e complexa e perceber todo o seu significado.
Claro que a internet está omnipresente, é lá que encontro muita documentação que serve de base ao meu trabalho, seja uma encíclica do Papa seja um artigo de revista. Depois é aqui que entra o lápis: impresso o texto (não gosto de ler textos com mais de uma página no monitor) toca de sublinhar, tirar notas, acrescentar pensamentos conexos, e depois , em cartõezinhos ir escrevendo os tópicos da apresentação ou palestra. Não gosto de ter o texto completo, porque na altura da apresentação há sempre que dar espaço ao Espírito Santo (ou à improvisação).
Mesmo que a palestra não tenha suporte gráfico (noutra crónica poderei falar do keynote) gosto de ter as minhas notas organizadas de modo gráfico e esquemático: com setas, círculos, linhas, etc. Por isso é que o lápis se torna uma ferramenta tão boa. É versátil, tem uma escrita leve, apaga-se facilmente, o que permite ir mudando as coisas à medida que o pensamento vai fluindo e tem uma cor discreta. Podemos escrever num livro (é verdade: quase todos os meus livros de trabalho, mesmo a bíblia, estão cheios de sublinhados e notas à margem escritos a lápis) numa folha impressa, numa revista, que não estragamos os media em que escrevemos. O lápis é menos intrusivo que a caneta e é feito de carbono (BTW: leiam a National Geographic de Fevereiro, aquela revista de bordas amarelas).
Claro que agora não me limito ao lápis normal, uso mais uma lapiseira, ou porta-minas. Antes não gostava muito das lapiseiras porque tinham uma mina ou muito fina (0,5 mm) e dura, o que marcava demasiado o papel em que se escrevia, ou da mesma grossura que as minas dos lápis normais o que acabava por provocar traços demasiado grossos e pouco precisos. No início do ano encontrei a lapiseira ideal: da Faber-Castell, com 1 mm de grossura e macia quanto baste para fazer uma escrita precisa e leve.
No fim de contas os lápis são como os computadores: ferramentas que nos ajudam a fazer o nosso trabalho de uma maneira mais simples e eficaz, despertando a capacidade criativa e congregando as nossas potencialidades para que o mundo seja melhor.